sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CASOS E CAUSOS - 2ª EDIÇÃO




APRESENTAÇÃO

A 2ª edição do livro “Casos e Causos: um encontro da cultura popular”, elaborada pelos alunos do Liceu de Quixeramobim Alfredo Almeida Machado e professores do Laboratório Escolar de Informática, vem contribuir sobremaneira para a valorização de nossa cultura local. A ação educativa faz parte agora do Projeto Jovem de Futuro e conta com recursos do Ministério da Educação para seu financiamento.
Foram meses de pesquisas feitas pelos alunos, com pessoas residentes na sede e distritos do município de Quixeramobim, buscando o que nosso município tem de pitoresco ao se valorizar os relatos orais de nossos moradores.
Deve-se também atentar para o trabalho de ilustração de nossos alunos, com desenhos que representam bem o imaginário das histórias contadas.
O livro apresenta 24 contos, os quais exploram o imaginário local, com um toque de humor, bem típico das histórias contadas no Ceará. O resgate de tal tradição é fundamental para que nossas histórias não se percam e para que nossas tradições não sejam esquecidas.
Todo esse trabalho resulta em alunos comprometidos com sua história. Além disso, desenvolve-se também a expressão oral e escrita, essencial para sua aprendizagem e futuro.
Parabéns a todos que estiveram presentes na realização desta brilhante produção!

Ivonildo da Silva Reis
Coordenador Pedagógico do Liceu de Quixeramobim



Prefácio
Quem nunca ouviu nenhuma história de Trancoso ou alguma história de assombração e/ou mistério? Quem nunca se deleitou em noites sombrias ou de luar do sertão, ou até mesmo numa noite urbana em que faltou energia elétrica com uma história de homem ou mulher que virava bicho ou com uma casa assombrada na rua de trás? Quem conta um conto aumenta um ponto. E quem conta um causo suscita, ou ressuscita outro causo. Pode até ser repetido um causo, mas quando é contado sempre há um detalhe novo. Nunca é contado da mesma forma, sempre há uma fantasia a mais, mais intensa. É isso que não deixa morrer as memórias orais que agora, através deste livro, são registradas; é a linguagem, a forma de contar que por muitas vezes não deixa o causo repetitivo, mas inovador, inovado. Palavras como “marmota”, “visagem” e títulos como “O estalado da macaca” de imediato nos remetem à literatura fantástica, à literatura oral que ouvíamos nossos pais e avós contarem e aguçam a curiosidade até de quem não gosta de ler. As ilustrações colaboram para levar o leitor à imaginação, criação ou recriação do cenário em que se sucedeu o causo. É um verdadeiro e fantástico exercício de memória. Imagine caro leitor, o quanto os entrevistados se sentem honrados ao verem suas histórias, reais ou não, registradas para que as futuras gerações possam ler e se deleitar daqui a anos e, daqui a anos estas memórias estarão mais vivas do que nunca. Portanto, não deixemos morrer este pilar de nossa identidade cultural, não deixemos de ler; deixemos que seja resgatada nossa cultura popular, nosso imaginário, nossa fantasia, nosso folclore e, consequentemente, um pouco de nossa história também. Avante! Deixe a fantasia fluir e a imaginação viajar no tempo e nas memórias. A literatura é, literalmente, pra comer! Bon appetít!

João Paulo Barbosa da Silva
Professor



CASOS E CAUSOS: UM ENCONTRO DA CULTURA POPULAR
2ªEDIÇÃO

ESCRITORES:

Ivyna Dryelle Fernandes Patrício
Hiago Silva Souza
Marcio Estenio Pimentel Cavalcante
Jhully Pereira de Lima
Mirian Campelo Dantas
Alex de Sousa Paiva
Ana Marcia de Silva Melo
Marcelo Ferreira Gomes
Marcelo Augusto Alves Silva
Ives Franco Viana
Ruddo Lopes Neuman
Matheus Ferreira da Silva
Ana Estela Oliveira Lima
Daniel da Silva Medeiros
Bruna Maria Felipe Severo
Magda Silva Freitas

ILUSTRADORES:

Felipe Rodrigues da Silva
Antonio Filho da Silva Ribeiro
Leticia Mara da Costa
David Silva do Couto
Francisco Kelleton Ferreira Macêdo
Regilene Santos Rodrigues
Mikele Alves de Sousa
Matheus Ferreira da Silva
Rodrigo Barros Leal

PROFESSOR REVISOR:
Ivonildo da Silva Reis

PROFESSORES COLABORADORES:

Patrícia Saldanha Vasconcelos
João Paulo Barbosa da Silva
Gustavo de Costa Oliveira
Alba Marília Lima Cruz




O CORNO E O TREM



Conta-se que na década 60 aconteceu o primeiro crime de que se tem registro no Bairro Depósito, em Quixeramobim. Durante muitos anos, a locomotiva do trem estacionava no depósito e, toda noite, a máquina produzia um estranho barulho que fazia; “teco, teco, teco”... Um senhor de idade não muito avançada residia perto do estacionamento e escutava este barulho diversas vezes antes de dormir. Em uma certa noite, o barulho soou diferente. Para ele, o irritante barulho de “teco, teco, teco estava dizendo “corno, corno, corno”, isso o deixou extremamente incomodado, quase enlouquecido.
Ao amanhecer, o senhor se lenvantou de sua cama e andou atordoado de um lado para o outro, questionando-se como pudera sua esposa ter lhe traído. Agindo por implulso, foi até a cozinha onde a mulher preparava o café, pegou a mão de pilão repentinamente, atacando-a com um golpe mortal. A mesma veio a falecer de imediato.
O assassino saiu de casa desesperado e os vizinhos acionaram a policia em seguida, o homem foi detido.
Na prisão, ele começou a ouvir ora o som da locomotiva, ora as vozes que bradavam a suposta traição de sua esposa. Extremamente confuso e enlouquecido, meses depois, cometeu suicídio.



A CRIATURA DA SERRINHA DE SANTA MARIA



No múnicipio de Quixeramobim, há décadas, um certo morador chamado Antônio andava como de costume pela região. De repente, depara-se com um ser desconhecido e por curiosidade resolve ir até ele para ver o que seria.
Quando ele se aproxima, encontra um bicho muito estranho, com aproximadamente um metro de altura. Quando percebe a presença do seu Antônio, a criatura foge desesperadamente daquele local.
Passados os dias, o Sr. Antônio logo começa um relacionamento. Noivou, casou-se e teve filhos. Tempos depois, alguns moradores daquela região comentaram sobre um suposto ser que andava criando caos por ali.
A aparição estava matando os animais e bebendo o sangue das galinhas e porcos.
Certo dia, os moradores escutaram o alvoroço dos cachorros que brigavam com um bicho muito estranho, dele ouviam-se uns sons como se fossem uns sinos pequenos. Logo depois, ele foge mata a dentro. Seu Antônio pega sua espingarda e vai atrás do mesmo, levando seus cachorros. Andando na mata, ele acaba encontrando o ser. Os cachorros entraram dentro de um olho d'água e o atacaram, mas não conseguiam deter o bicho.
A solução foi seu Antônio disparar um tiro com sua espingarda. Logo depois de ser atingido, a criatura saiu correndo em direção aos pés de seu Antônio, onde veio a morrer.
Os moradores, ao ouvir o disparo do tiro, correram imediatamente para o local. Chegaram lá e logo se espantaram, pois sua aparência física parecia com a de seres humanos, sua orelha, seus pés e sua sobrancelha. Os braços eram colados ao peito, sua curvatura era côncava e em seu corpo não existia a presença de pêlos.
Eles levaram o corpo do desconhecido e o puseram em cima de um formigueiro,mas as formigas não o devoraram, nem os urubus o desejaram, acabou se decompondo apenas com o calor do sol.
Depois desse ocorrido, muitos tentaram sem sucesso descobrir o que era o ser estranho da Serrinha de Santa Maria.


ORAÇÃO DE PARIDEIRA


No tempo em que as mulheres tinham os filhos nas suas próprias casas, com as famosas parteiras, o risco era muito grande tanto para a criança quanto para a parturiente. Sabendo disso, as mulheres se agarravam com todo tipo de mezinhas e orações.
Era muito conhecido no interior do Ceará, um velho que vagava de cidade em cidade, num cavalo alazão, levando uma bendita e famosa oração “parideira”. Onde o velho chegava, já ansiosamente aguardado; era uma festa para as mulheres prenhas do lugar.
Mas o velho tinha as suas exigências. Além de boa hospedagem e alimentação para ele e seu cavalo, ninguém podia mexer na trouxinha de pano, pendurada num cordão, onde era embalada a milagrosa oração e nem ele dizia o que lá estava escrito.
Na hora do parto, bastava a parturiente colocar o poderoso artefato no pescoço e pronto, a criança nascia sem nenhum problema, saúde boa para mãe e filho e tudo bem. Sorte ou não, sempre dava certo e a oração do velho ficava cada vez mais famosa e requisitada.
Mas num belo dia, uma das amigas de uma parturiente, aproveitando-se da distração do velho, resolveu abrir a trouxinha para ver o teor da oração e quase morre de espanto.Estava escrito, em quase ilegível caligrafia: “Comendo eu e meu cavalo alazão, pouco me importo se essa mulher vai parir ou não!”


A PEDRA DA VISAGEM¹


Na localidade de Curralinho, em Quixeramobim, existia um homem chamado Francisco de Assis; o mesmo possuía uma moto e adorava uma aventura em alta velocidade. Sempre ao vir à cidade, ele tinha o costume de andar acima de 100km/h; era muito conhecido pelo seu jeito louco de pilotar.
Em um certo dia, voltando da cidade, já próximo de casa, derrapou e acabou tendo uma morte horrível, quebrando o pescoço, sem chance alguma de sobrevivência, pois vinha em altíssima velocidade. Seu corpo caiu sem vida, próximo a uma pedra, manchando-a de sangue.
Depois de sua morte, muitos moradores dizem ouvir vozes no local, e quando os motoristas passam a noite, sempre avistavam um homem, vestindo roupas brancas, no meio da estrada, próximo à pedra. Por este motivo, a pedra ficou conhecida como Pedra da visagem.


A PERNA CABELUDA



Uma história muito inusitada aconteceu nos anos de 1980, em Quixeramobim. Tudo começou quando um radialista chamado Carlos Salvador noticiou que um casal de namorados que se abraçavam em frente ao cemitério foram assustados por uma misteriosa perna cabeluda.
A notícia logo se espalhou pela cidade e, a cada dia, o locutor anunciava mais uma aparição da perna cabeluda. Muitas dessas aparições aconteciam no bairro da Maravilha. Tal fato causou espanto e medo de quase toda população, que evitava sair de casa com medo da assombração.
Com o tempo, surgiram várias versões sobre o assunto. Há boatos de que havia sido descoberta que a perna cabeluda não passava de uma fraude feita por um homem usando peles de animais. Mas há também quem acredite que tudo era real.


NAS PROSAS DA BERILÂNDIA, EXISTE O HOMEM-CACHORRO


Entre as décadas de 1950 e 1960, quando se juntavam as senhoras, lá em Berilândia, um interior pacato do município de Quixeramobim , era costume se passarem tardes inteiras tomando-se um cafezinho, até o sol se pôr, conversando, contando as suas histórias, passadas de geração em geração.
Porém, havia uma senhora chamada Marieta, que contava, em forma de prosa, uma história bem peculiar, falava que lobisomem de verdade não existia, o que era verdadeiro se chama o homem- cachorro. Este foi um pobre coitado, amaldiçoado pelo seu destino, que, quando criança, recebeu uma mordida de um cão, com alguma doença daquelas “brabas”. Desde então, sentia mais vontade de ser cachorro do que homem. A família, com medo do pior, viu que não tinha jeito; abandonou-o em umas matas distantes dali. Mas o menino voltava, todavia, e batia na porta dos pais. Então eles decidiram ir embora e nunca mais apareceram.
O menino cresceu, virou um homem, e como imaginado, sim, ele virava um cachorro, grande, com dentes enormes, mas ele tinha algo só dele, é que só se transformava em dia de festas. Podia ser dos coronéis do Riacho Valentim ou dos roçadores de Berilândia, ele sempre aparecia, ficava escondido entre as matas, via as meninas e as criancinhas. Sua vontade era de atacá-las e matá-las, mas algo não o deixava cometer este ato.
Muitos tinham medo dele, achavam que era um assassino brutal. Quando aparecia alguém morto, naquelas matas, já diziam: “Foi ele, o homem-cachorro”. Era tão aterrorizante para as crianças, que D. Marieta falava para os seus filhos ficarem quietos, se não, dizia que iria chamar o homem- cachorro.
Mas em um certo dia, foi encontrada a verdade sobre esta pobre criatura. Ele morreu, mas não de tiro, nem de facada, morreu de fome, por nunca ter tido coragem de matar ninguém. Com ele encontraram uma carta, dizendo:
Todos nós temos um lado bom e um lado mau, uns utilizam de boas atitudes, para ter retorno de algo, o que já lhe faz uma pessoa não muito boa, outros utilizam do mau para ser melhor do que os outros, o que lhe faz uma pessoa pior ainda, mesmo tendo um monstro dentro de mim, jamais matei alguém, porque entre o bem e o mal, eu fico com a paz de todos nós.
E assim se foi, o homem-cachorro, um monstro diferente de todos os outros que você já ouviu falar. Esse dá uma lição de vida para os moradores daquela localidade, mostra que devemos buscar sempre ser do bem e da paz, em todas as situações que a vida vier a nos oferecer! Mas cuidado, ele pode apenas querer ter morrido como bonzinho, e pode ainda estar por lá, nas mesmas matas, latindo forte em noites de festa, e causando medo em quem passa pelo interior da Berilândia!


O HOMEM DE VÁRIOS INSTINTOS


Na fazenda Normal, situada na vila de Uruquê, em Quixeramobim, aconteceu um fato no mínimo intrigante. Conta-se que, nos idos de 1960, um certo homem que morava na cidade de Bela Ponte mudou-se e foi residir na fazenda mencionada; os mais idosos do local contam que ele transformava-se em diversos animais.
As pessoas daquela localidade ficaram sabendo de tal habilidade do homem e, por isso, tinham medo dele. O mesmo tinha hábitos muito estranhos e quando a penumbra da noite caía sobre o distrito, começava-se a ouvir sons estranhos de vários bichos; a população já ficava em alerta, pois sabiam que as transformações haviam começado.
Aquele ser estranho se transformava em diversos animais, como porco, jumento, cavalo, cachorro e até jacaré, animal incomum no sertão. Já não bastasse essas transformações, os habitantes daquela localidade também contaram que viram aquele assustador homem comendo ossos humanos atrás de sua residência.
Certo dia, o homem, transformado em bicho, correu atrás de uma mulher, que na verdade era sua própria esposa. Apavorada, a pobre moça subiu na primeira árvore que viu e não notou que abaixo de onde estava havia uma coivara¹. Quando a pobre mulher foi descer da árvore, acabou se acidentando naquela armadilha, ficando com a mão aleijada. A mulher contraiu uma doença, porém ninguém ia visitá-la com medo de seu marido. Assim aquele casal desapareceu daquele distrito e nunca mais ninguém ouviu falar nele.

A CASA DOS SUICIDAS

No pequeno interior de Quixeramobim, chamado Descanso, localizado após a Vila de Uruquê, existia uma casa grande, com vários quartos, salas e cozinhas, mas algo estranho acontecia por lá.
O Sr. Deoclécio Chaves da Silva e sua esposa, a Sra. Maria Natividade Fernandes contam que acontecia algo sobrenatural na casa, que não o deixava dormir à noite, pois ouviam barulhos das panelas caindo no chão. Quando iam olhar, tudo estava em seu devido lugar. Viam também fogo nos punhos das redes, e o pior eram quando coisas do além vinham e tiravam as redes do armador, derrubando os netos que, assustados, choravam à noite toda.
O Sr. Deoclécio conta que, um certo dia, estavam todos sentados no alpendre; aos poucos, foram saindo e ele ficou sozinho por lá, quando de repente ouviu algumas pisadas estranhas; olhou para um lado, olhou para o outro, porém não viu nada; sentou-se novamente e sentiu algo assoprar no seu ouvido.
Ele ficou muito assustado e diz que, até hoje, lembra das coisas estranhas que aconteciam naquela casa. Atualmente, a casa está abandonada. Muitos ex-moradores relatam que os feitos sobrenaturais que ocorrem por lá são devido à primeira família que a construiu e por lá morou por muitos anos. Todos da família se suicidaram na cozinha e os espíritos ficam vagando na casa, atormentando todos que pretendem morar por lá.

A CASA MAL-ASSOMBRADA


Por volta da dácada de 1970, na localidade de Quixeramobim, conta-se que em uma certa ocasião, morreram quatro pessoas de uma mesma família, restando apenas um homem, não querendo morar sozinho na casa da família, mudou-se e começou a alugar a casa para outras pessoas.
A primeira família que alugou a casa não durou muito tempo, pois por lá coisas estranhas aconteciam, como panelas que voavam, vultos que assobiavam, além de vozes e gemidos.
Tempos depois, outra família alugou a casa. Desta vez, uma jovem logo começou a vê os espiritos que assombravam a casa; ela via o espírito de um homem, uma criança, uma mulher e uma senhora.
Toda noite, na hora de dormir, ela deixava a luz acesa, e logo depois vinha o espírito de uma senhora já idosa e apagava a luz.
As panelas voltavam a cair no chão e todas as portas do guarda-roupa se abriam, fazendo um barulho assustador.
Certa vez, ela fechou os olhos e, ao abrir, viu a velha ao seu lado. Imediatamente ela levantou-se desesperada e propôs a sua família irem embora daquela casa.
A jovem e sua família decidiram ir embora e até hoje poucos tem coragem de dormir na casa mal assombrada.

A METAMORFOSE DE FRANSQUINHA

Há muito tempo, quando a cidade de Senador Pompeu era apenas uma pequena vila, conta-se que uma moça muito bonita trabalhava com seu pai, homem muito rico que possuía uma fazenda bem farta; o homem temia apenas as cabras dos vizinhos, que todo dia passavam pela cerca e destruíam as suas plantações. Chamava-se Antônio e um dia teve a idéia de colocar Fransquinha, sua filha, para pastorar as cabras para que estas não pudessem invadir a fazenda.
Fransquinha, cansada de tanto pastorar cabras valentes, acabou tendo uma ideia junto com seu irmão. Os dois furaram os olhos das cabras, assim elas não enxergariam a cerca e não destruiriam as plantações. Dias depois, foram encontradas todas as cabras mortas , pois se elas não conseguiram enxergar a cerca, também não conseguiram encontrar alimento, assim acabaram morrendo de fome. O dono das cabras, sem entender tal maldade, fechou a fazenda com muito desgosto.
Anos depois, Fransquinha casou e teve filhos. Descobriu, porém, que estava com um sério câncer muito raro, sem cura . Ela sofreu bastante com muitas feridas se espalhando por seu corpo, seus olhos caíram e o câncer acabou com sua estrutura facial. Ela acabou, por fim, morrendo, sem face e berrando.


ALMAS PRISIONEIRAS

Na rua Professor José Remígio, próxima à escola Luíza Távora, em Quixeramobim, encontra-se a Secretaria de Infraestrutura.
Antigamente, a secretaria era uma cadeia. Muitos já morreram naquele local, acometidos por doenças, maltratos ou assassinatos. O fato é que há uma energia muito negativa naquele lugar, os moradores afirmam escutar vozes, gritos e luzes que acendem e apagam misteriosamente.
À noite, o prédio fica no escuro, devido às enormes árvores antigas, o que torna o ambiente ainda mais assombroso.
As pessoas mais antigas contam que os que morreram naquele lugar cometeram crimes terríveis e, por não terem cumprido a pena em vida, ficaram eternamente aprisionados. Até hoje pedem socorro e suplicam a sua liberdade espiritual.

A ANACONDA DO QUIXERAMOBIM

O açude da Comissão, localizado nas proximidades do bairro Vila Elói e Vila Betânia, em Quixeramobim é muito conhecido pela população por suas águas poluídas. No entanto, nem sempre foi assim, houve um tempo no qual o açude era limpo e as pessoas costumavam tomar banho, como é costume nas cidades interioranas. As crianças e jovens tinham, nos banhos de açude, o seu lazer predileto. Em um certo inverno, estação pouco comum em Quixeramobim, muitas pessoas começaram a relatar a presença de cobras enormes no açude. Tais aparições deixaram os pais preocupados, proibindo a diversão predileta dos filhos.
Segundo moradores, as cobras eram mesmo de assustar, pelo seu tamanho. Certo dia, por volta das cinco e trinta da tarde, um rapaz tomava banho sozinho no açude, quando foi atacado por um animal até então desconhecido. Tentaram-no socorrer, mas o rapaz foi surpreendido novamente pelo animal. Infelizmente já o resgataram sem vida. Muitos que presenciaram a cena afirmam terem visto a cabeça de uma cobra, outros dizem que o bicho era tão feio que não conseguiram descrever, fala-se também em um espírito e outras criaturas sobrenaturais. Até hoje, ninguém conseguiu chegar a um consenso sobre a morte do rapaz.


AS ASSOMBRAÇÕES DO SEMINÁRIO

No antigo seminário de Quixadá, onde antes residiam os seminaristas, aparecia, à noite, o espírito de um pequeno garoto. Reza a lenda que certo padre chegou de seus ofícios e dirigiu-se à cozinha como de costume. Ao chegar, notou a presença de um pequeno garoto negro de aparência apavorante, que lhe pôs medo. O padre, assustado, correu para seu quarto e o menino o acompanhou apressadamente. Enquanto o padre corria pelo enorme corredor, ouvia as enormes risadas daquele ser assustador. Ao entrar no quarto, notou que, debaixo da porta, o menino passava seus dedos por entre a pequena fenda.
Deste dia em diante, esse menino tem a fama de bater nas portas dos quartos que ficam ao longo de um enorme corredor. Quem responde ao seu chamado ouve enormes gargalhadas.
Ainda no mesmo local, um outro padre relatou que vira uma bela mulher de vestido vermelho passar por ele no corredor , mas que ao virar para vê-la novamente, a mesma havia sumido.
No começo, ele não deu muita importância, no entanto, um certo dia, o padre foi encomendar um corpo no cemitério e notou que, entre as pessoas que estavam ali, havia uma mulher de vestido vermelho. Lembrou imediatamente que era a mesma que ele havia visto no seminário e mais uma vez ela desapareceu sem que ninguém a visse .


O CHORO DA CRIANÇA MISTERIOSA

Na localidade de Pontal Alegre, em Quixeramobim, existia um morador que se chamava Sr. Doca. Conta-se que ele andava muito pelos arredores da fazenda onde morava, quando ouviu um barulho que mais parecia choro de uma criança, esse som vinha da beira de um riacho.
Neste instante, o Srº Doca ficou desesperado com o choro que ouvia e saiu à procura do suposto bebê. Quanto mais se aproximava do som, mais a criança chorava. Quando ele chegou à beira do riacho, não ouviu mais nada, apenas sentiu um forte arrepio em seu corpo.
Poucos minutos depois, ele ouve outro choro, só que desta vez, do outro lado do riacho. O Sr. Doca saiu correndo, ao mesmo tempo que ouvia o som, quanto mais corria, mais o choro o perseguia, até chegar em casa, onde tudo era silêncio.
Dias depois desse episódio, o Sr. Doca descobriu que há cem anos, uma mulher abandonou uma criança naquele riacho, que falecera de fome e frio. Muitos outros relatos do choro misterioso começaram a ser comentados na região, mas depois que uma missa foi rezada, acredita-se que o espirito da criança descansou em paz.

O HOMEM DA MOTO E AS ALMAS

Conta-se que, na comunidade de Castelo, em Quixeramobim, um homem passava de moto por um alto, quando, de repente, perdeu o controle da moto e se acidentou terrivelmente. De imediato, o homem veio a óbito, seu rosto ficou desfigurado e seu corpo com várias fraturas. As primeiras pessoas que o encontraram tentaram prestar os primeiros socorros, mas já era tarde.
Alguns dias depois, um cidadão ia passando pelo mesmo local do acidente, quando, de repente, avistou uma figura horripilante: um homem aparentemente acidentado em cima da mesma moto envolvida no acidente. Era noite e não dava para reconhecer o condutor da motocicleta, porém quando o homem se aproximou, viu uma figura cadavérica e completamente ensanguentada. O homem saiu às pressas e bastante assustado. Por se tratar de uma pequena vila, logo a história se espalhou e, vez ou outra, as pessoas ainda costumavam se deparar com esse terrível ser.
Até hoje, ouve-se essa história na localidade e acredita-se que o local ficou marcado por uma maldição. O fantasma em sua moto habita a região ecoando gritos de dor e espalhando medo por aqueles que o encontram.

LÁ NO AÇUDE DA COMISSÃO

Há alguns anos, próximo ao bairro da Vila Eloi, mais precisamente no açude da comissão, ouvia-se muito falar em seres horripilantes. Vez ou outra, as pessoas relatavam histórias de seres que apareciam na parede daquele açude, os mais comuns eram os espíritos. Já houve até relatos de discos voadores e da aparição da tão famosa perna cabeluda. O tempo se passava e mais assombradas as pessoas ficavam.
Em uma certa ocasião, as pessoas viram um padre andando na parede do açude que misteriosamente sumiu. Assustadas, as pessoas que o viram correram.
Pouco tempo depois, outro grupo de pessoas passava pelo mesmo local, mas dessa vez, viram apenas a cabeça do padre boiando, imediatamente entraram em pânico e, como o outro grupo, saíram correndo. Com o passar dos anos, outros relatos surgiram. As pessoas viam o espírito do padre ou sua cabeça boiando no açude da comissão.


OS PODERES DO LIVRO DE SÃO CIPRIANO


Em meados dos anos DE 1960, contava-se uma história muito popular no bairro da Maravilha, município de Quixeramobim. Naquele bairro, havia um homem chamado Antonio Chico Brilhante que no passado, foi membro do grupo de cangaceiros de Virgulino, o famoso Lampião. As pessoas que residiam naquele bairro contavam que havia um grande mistério em torno daquele homem.
Seu Chico, sempre que era perseguido ou estava em perigo transformava-se em um toco, assim, nunca era capturado. Para conseguir tal proeza, usava magias do livro de São Cipriano.
Os mais antigos contam que este livro foi condenado pela Inquisição Católica por tratar-se de um livro de magia negra. Possuía capa preta e descrevia rituais de ocultismo, receitas e explicações sobre magia negra.


AS ALMAS DA IGREJA MATRIZ

Em meio à grande seca que devastava os sertões de Quixeramobim, nos anos de 1845 e 1846, conta-se que o vigário interino daquela época escreveu uma carta ao presidente da provincia informando que não sabia o número de mortos que a seca havia acometido na região, pois muitos dos que moravam em lugares distantes da vila não vinham enterrar os corpos na Matriz. No lugar em que os mesmos morriam, eram enterrados. Conta-se ainda que, nesta seca, morreram mais de 500 pessoas, em sua maioria, crianças. Era costume, naquela época, dar sepultura ao mortos no "no Sagrado" e só exitiam, naquele tempo, a Igreja Matriz de Santo Antônio, capelas e algumas casas de orações.
A Matriz de Santo Antonio serviu por mais de 100 anos como cemitério aos paroquianos. Em suas paredes grossas de pedra e sal existiam diversas catatumbas. No piso também havia inúmeras sepulturas. No decorrer dos anos, o povo dizia que a Matriz era mal-assombrada, pois muitos afirmavam terem visto almas penadas, de pessoas enterradas no local.
Na mesma época, os moradores da cidade queriam construir suas casas próximas à Matriz, no entanto a Câmara municial não permitiu, decretando que ali deveria ser contruída um praça, pois, com o sol forte e os grandes ventos, os moradores iriam sentir o mal cheiro dos cadáveres. Na mesma ocasião, a Igreja do Rosário e a Igreja do Bonfim também enterravam pessoas na suas depedência, geralmente os mais pobres, já que não existia cemitério em Quixeramobim.


O MISTÉRIO DA AVENIDA 13 DE JUNHO


Quem já andou, à noite, pela avenida 13 de Junho, em Quixeramobim, certamente não mais voltará ao local após ouvir o relato abaixo.
Durante a madrugada, mais precisamente a partir das 3 horas, os moradores dizem ver uma mulher misteriosa que aparece na esquina entre a rua 13 de Junho e o antigo Centro Maternal. Tal aparição tem o aspecto de uma velhinha assustadora, com cabelos brancos e uma corcunda. Ela passeia durante a madrugada, vestindo a roupa de hospital; a mesma carrega um soro e persegue quem passa por ela.
Muitos dizem que esta pobre é uma alma atormentada que escolheu a avenida 13 de Junho, porque no local residem muitos funcionários do Hospital Regional de Quixeramobim e quando viva, ela foi muito maltratada pelas enfermeiras por conta de ser portadora de uma doença contagiosa.


O MUTANTE DA NENELÂNDIA

No distrito de Nenelândia, havia um rapaz considerado muito tímido e estranho. O mesmo estudava na escola da cidade e os professores sempre estavam preocupados, pois o mesmo não participava das aulas, ficava sempre no cantinho da sala, muito quieto. A única diversão do jovem era visitar a sua professora, ele chegava a sua casa e ficava como na escola, quieto, sem dizer uma palavra sequer.
Uma certa noite, a professora foi fazer o mingau de sua filha e percebeu que algo andava por cima do telhado de sua casa, logo pensou que fosse algum gato. Na mesma noite, um enorme cachorro atacou as pessoas que estavam na calçada de sua rua, o pai da professora acertou um golpe nas patas do animal a fim de espantá-lo.
No dia seguinte, a professora foi para escola, como era de costume. Ao chegar à sala de aula, deparou-se com o aluno e notou que o mesmo estava com a perna enfaixada. O garoto aproximou-se da professora e começou a falar:
  • Professora, eu fui a sua casa ontem à noite.
  • Ontem a noite? Você está enganado! - disse ela com surpresa.
  • Fui sim, e fiquei em cima do telhado vendo a senhora fazer o mingau de sua filha.
Seu pai atacou-me e machucou minha perna!
O jovem prosseguiu falando muito rápido e nervoso, ele confessou que desde os sete anos de idade transforma-se em um enorme cachorro. Apenas a mãe e o pai do garoto sabiam deste segredo. Todos ficaram bastante impressionados e o jovem não foi mais às aulas, pois ficou seriamente doente.
Meses depois, o jovem faleceu devido a problemas renais; uma semana, depois seu irmão também veio a falecer devido ao mesmo problema.