Entre
as décadas de 1950 e 1960, quando se juntavam as senhoras, lá em
Berilândia, um interior pacato do município de Quixeramobim , era
costume se passarem tardes inteiras tomando-se um cafezinho, até o
sol se pôr, conversando, contando as suas histórias, passadas de
geração em geração.
Porém,
havia uma senhora chamada Marieta, que contava, em forma de prosa,
uma história bem peculiar, falava que lobisomem de verdade não
existia, o que era verdadeiro se chama o homem- cachorro. Este foi um
pobre coitado, amaldiçoado pelo seu destino, que, quando criança,
recebeu uma mordida de um cão, com alguma doença daquelas “brabas”.
Desde então, sentia mais vontade de ser cachorro do que homem. A
família, com medo do pior, viu que não tinha jeito; abandonou-o em
umas matas distantes dali. Mas o menino voltava, todavia, e batia na
porta dos pais. Então eles decidiram ir embora e nunca mais
apareceram.
O
menino cresceu, virou um homem, e como imaginado, sim, ele virava um
cachorro, grande, com dentes enormes, mas ele tinha algo só dele, é
que só se transformava em dia de festas. Podia ser dos coronéis do
Riacho Valentim ou dos roçadores de Berilândia, ele sempre
aparecia, ficava escondido entre as matas, via as meninas e as
criancinhas. Sua vontade era de atacá-las e matá-las, mas algo não
o deixava cometer este ato.
Muitos
tinham medo dele, achavam que era um assassino brutal. Quando
aparecia alguém morto, naquelas matas, já diziam: “Foi ele, o
homem-cachorro”. Era tão aterrorizante para as crianças, que D.
Marieta falava para os seus filhos ficarem quietos, se não, dizia
que iria chamar o homem- cachorro.
Mas
em um certo dia, foi encontrada a verdade sobre esta pobre criatura.
Ele morreu, mas não de tiro, nem de facada, morreu de fome, por
nunca ter tido coragem de matar ninguém. Com ele encontraram uma
carta, dizendo:
Todos
nós temos um lado bom e um lado mau, uns utilizam de boas atitudes,
para ter retorno de algo, o que já lhe faz uma pessoa não muito
boa, outros utilizam do mau para ser melhor do que os outros, o que
lhe faz uma pessoa pior ainda, mesmo tendo um monstro dentro de mim,
jamais matei alguém, porque entre o bem e o mal, eu fico com a paz
de todos nós.
E
assim se foi, o homem-cachorro, um monstro diferente de todos os
outros que você já ouviu falar. Esse dá uma lição de vida para
os moradores daquela localidade, mostra que devemos buscar sempre ser
do bem e da paz, em todas as situações que a vida vier a nos
oferecer! Mas cuidado, ele pode apenas querer ter morrido como
bonzinho, e pode ainda estar por lá, nas mesmas matas, latindo forte
em noites de festa, e causando medo em quem passa pelo interior da
Berilândia!
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